Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para
frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou
uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas
percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em
reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me
com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus
lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio
avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário do coral.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua
mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar
humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de
tempo.Ricardo Gondim