Tem gente que faz poesia como quem ejacula
Escreve verso e pensa que é prosa
E não pode ver um par de coxas que goza
Tem gente que faz poesia como quem menstrua
E quatro dias por mês fica na sua
E quatro dias por mês fica na sua
Tem gente que faz poesia como quem peida
Não cheira nem fede
Não cheira nem fede
Tem gente que faz poesia como quem arrota
E é só virar as costas que eles cagam nas botas
E é só virar as costas que eles cagam nas botas
Tem gente que faz poesia como quem baba
Você termina de ler e o poema acaba
Você termina de ler e o poema acaba
Poesia pra mim é assim
É de seis em seis mês
E olha lá é só uma de cada vez
É de seis em seis mês
E olha lá é só uma de cada vez
A última que fiz
Eu estava até feliz
Parado no ponto
Do ônibus esperando
Do meu lado uma poça
De água, me olhando
E só pra fazer uma troça
perguntei a Deus:
– Qualé a da poça
Deus cochichou rapidinho
No ouvido de um pardalzinho
Que desceu na poça
Bebeu dois golinhos de água
E voou apavorado
E eu aproveitei o seu
Biquinho ainda molhado
Pra escrever esse versinho
Só pra matar a minha sede de viver
E pra não esquecer da troça
Resolvi chamar o versinho de poça
E o versinho ficou assim
Poça
Água parada sonhando na poça
Não move moinhos
Em compensação mata
A sede dos passarinhos.
Eu estava até feliz
Parado no ponto
Do ônibus esperando
Do meu lado uma poça
De água, me olhando
E só pra fazer uma troça
perguntei a Deus:
– Qualé a da poça
Deus cochichou rapidinho
No ouvido de um pardalzinho
Que desceu na poça
Bebeu dois golinhos de água
E voou apavorado
E eu aproveitei o seu
Biquinho ainda molhado
Pra escrever esse versinho
Só pra matar a minha sede de viver
E pra não esquecer da troça
Resolvi chamar o versinho de poça
E o versinho ficou assim
Poça
Água parada sonhando na poça
Não move moinhos
Em compensação mata
A sede dos passarinhos.
Hélio Leites